O governo desmatador

Por Ronaldo Soares

Levantamento mostra que os assentamentos do Incra são os maiores agressores da Amazônia.

GOVERNO X GOVERNO - Floresta derrubada (no alto), Minc (à esq.) e Hackbart, do Incra: a política agrária incentiva o desmatamento.

O Ministério do Meio Ambiente, divulgou recentemente a lista dos 100 maiores desmatadores da Amazônia em 2006 e 2007. Quem lidera o ranking da motosserra? O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, demonizado por dez em cada dez ONGs ambientais do mundo? Não. Quem destrói para valer a floresta é o governo federal – que deveria defendê-la. No topo da lista dos maiores desmatadores estão seis assentamentos do Incra, responsáveis pela derrubada de 223.000 hectares de floresta – uma área equivalente a uma cidade de São Paulo e meia. No total, os assentamentos são responsáveis por 20% de todo o desmatamento da Amazônia. O ingrediente novo – e muito bem-vindo – que a lista traz a público é que, pela primeira vez, alguém do governo apontou o próprio governo como um dos grandes patrocinadores da derrubada de árvores na região. O presidente do Incra, Rolf Hackbart, esperneou, com apoio do ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. Alegou que a lista contém imprecisões sobre a localização dos assentamentos e o período em que a devastação aconteceu. Minc deu vinte dias ao Ibama para conferir as informações. Mas afirma que houve nos assentamentos um desmatamento muito superior ao permitido por lei. "Sabe-se disso há muito tempo, mas os governos sempre tentaram varrer essa realidade para debaixo do tapete", diz o secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo, Francisco Graziano, que inclui em sua afirmação o governo Fernando Henrique Cardoso, do qual participou como presidente do Incra, em 1995.