Na média, estamos mal

por Ricardo Prado, de Buenos Aire

A escola secundária vive uma crise de identidade na América Latina: deve ser porta de saída para o trabalho ou de entrada para a faculdade?

A escola latino-americana não é retrato de seus países; é pior que eles”, afirmou Juan Eduardo Garcia Huidobro, ex-diretor-geral de Educação do Chile, na primeira semana de setembro em Buenos Aires, durante o Seminário Internacional de Ensino Médio promovido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). No encontro, que reuniu especialistas em educação do Brasil, Argentina e Chile, ficou patente que paira um mal-estar entre os jovens sul-americanos que se traduz em desconfiança diante de uma escola que parece oferecer-lhes pouco para um mundo em constante transformação. Tanto que, de 106 milhões de jovens entre 15 e 24 anos que vivem na América Latina e no Caribe, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 48 milhões deixaram a escola de lado e só trabalham. E 10 milhões de adolescentes e jovens adultos se encontram no pior dos mundos: não trabalham nem estudam.

No Brasil, o Ensino Médio patina na porta de entrada e bombardeia seus alunos antes de saírem. Tanto que boa parte desiste ou gasta mais um ou dois preciosos anos para terminar o ciclo. Dos 8,5 milhões de matriculados na escola secundária, só 44% se encontram na idade correspondente. No ano letivo de 2003, por exemplo, quando 3,6 milhões de brasileiros entraram no Ensino Médio, apenas 1,8 milhão conseguiram terminar o ciclo no tempo certo, três anos depois. Além dos que estão fora da escola e dos que se encontram defasados da idade ideal, as taxas de repetência (22,6%, em 2005) e de abandono (10%, em 2005) ainda permanecem elevadas, se comparadas às dos países desenvolvidos.