
Normalidade no começo - da esquerda para a direita, Prudente, Campos Salles, Rodrigues Alves e Affonso Penna.
"Iniciou-se ainda no século XIX a última seqüência de pelo menos três presidentes eleitos pelo voto direto, em que um passou a faixa ao outro, sem mortes, sem intermediação de um vice-presidente, sem interferência dos militares, enfim, sem modificações nas regras eleitorais de nenhuma natureza".
Ao contrário do que pode parecer, a grande novidade da próxima eleição presidencial de 2010 não seria uma alteração constitucional permitindo a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a um terceiro mandato. Nada disso. Ainda que configurasse uma mudança indesejável, se os aliados mais animados do governo conseguissem patrocinar uma reforma na legislação vigente estariam apenas seguindo um velho (e impróprio) costume nacional de impedir que as sucessões transcorram num ambiente de normalidade. Daí por que, ainda que soe incrível para muita gente, o grande diferencial político do momento seria o presidente Lula concluir o segundo mandato e, nos termos da Carta, passar a faixa ao sucessor em cerimônia no Palácio do Planalto. Aí sim o Brasil estaria inovando. Sabe qual foi a última vez que os brasileiros tiveram a oportunidade de ver uma seqüência de pelo menos três presidentes eleitos pelo voto direto, um passando a faixa ao outro, sem mortes, sem intermediação de um vice-presidente, sem interferência dos militares, enfim, sem modificações nas regras eleitorais de qualquer natureza? Na primeira série de eleições envolvendo civis, iniciada no século XIX, durante a República Velha, quando três presidentes eleitos em seguida concluíram seu mandato e passaram a faixa ao sucessor. E sabe quantas vezes isso voltaria a se repetir no Brasil? Nenhuma vez. Voltamos a ter a chance de ver algo parecido agora, no século XXI.